sábado, 27 de janeiro de 2007

Encontros da Vida


by Moranga
À espera numa caixa de supermercado para terminar o dia com as compras essenciais para fazer um doce para um jantar de amigos no fim-de-semana:



Querida-Anonima- “Posso deixar a caixa de cartão das fraldas aqui”

Menina-da-caixa- “Sim…Vou desmancha-la para não ocupar tanto espaço aqui junto aos meus pés”

Querida-Anonima-“ É que não me dá jeito nenhum levar a caixa comigo”

(a fila da caixa de pagamento a crescer e a atenção sobre o desmantelamento impaciente da caixa de cartão)

Menina-da-caixa- “O seu cartão não passa…Já bloqueou 3 vezes”

Querida-Anónima- “Não é possível! Pode tentar novamente?” (em tom aflito)

Menina-da-caixa-“ Pode tentar na caixa Multibanco mas o mais provável é não funcionar”

Querida-Anonima-“ Vai ter de anular o talão porque não tenho outra forma de pagar”

(a criança pequena que estava no carrinho junto à mãe, a Querida-Anonima, assim como as pessoas que componham a fila começaram a revelar impaciência. A Querida-Anonima estava desorientada, aflita, naquela situação embaraçosa)

Piu-Piu-San- “Posso pagar a sua conta?”
(meio a medo de ofender ou da sua intenção ser mal interpretada… fez-se um silêncio espantado)

Querida-Anonima-“ O meu cartão não funciona. Não posso levantar o dinheiro para lhe devolver”

Piu-Piu-San- “Não faz mal…Aceite como um prenda”

(o silêncio espantado contagiou todos os que estavam junto à caixa de pagamento )

Querida-Anonima- “Então só tenho a agradecer o seu gesto.”
(num misto de incrédulo alivio e algum nervosismo)

Querida-Anonima- “Mas gostava de ficar com o seu contacto para devolver-lhe o dinheiro”

Piu-Piu-San- “Certo, mas paga quando for mais conveniente para si. Não há pressa.
Estes cartões às vezes pregam-nos umas valentes partidas”

Querida-Anonima-“Obrigada…”



Piu-Piu-San e a Querida-Anonima despediram-se com um sorriso de amizade.
A Menina-da-caixa atendeu Piu-Piu-San com um generoso sorriso explicando animadamente os procedimentos dum novo cartão promocional, dando algumas sugestões fraternais de como utiliza-lo, apesar de estar no final do seu cansado turno.
E no próprio dia, a Querida-Anónima fez questão de ir pessoalmente à casa da Piu-Piu-San, e devolveu o dinheiro com toda a sua grata honestidade…

Isto não é catequese…
É acreditar que não podemos ficar indiferentes às angústias dos outros só porque não partilhamos laços de sangue...
Claro que esta situação poderia ter corrido muito mal, mas estranhamente, quando as intenções são genuinas, o infortúnio e a maldade dissipam-se perante a força da solidariedade.

Como diz a minha irmã: “A partir de quando é que as pessoas à nossa volta ficaram invisíveis?”
E como é refrescante saber que essa situação pode ser revertida, que não estamos sozinhos neste mundo…

2 comentários:

Liilavati disse...

Imperador, Piu-Piu-San é um estado de espirito.Não representa ninguém em particular e existe em todos nós.
Beijinhos

Sunshine disse...

Bananas!
Continua assim que vais ser se não te passo a chamar Piu-Piu-San! (Não reclames que é sempre melhor do que ser chamada Madre Teresa!)
:P
De qualquer forma adorei texto, porque sem dúvida não estamos sozinhos numa ilha (quer dizer... :P).
Estamos neste planeta para ajudar uns aos outros, uma mão não tem nada que contabilizar o que a outra faz.

Greatness Within

  “Protegei-me da sabedoria que não chora, da filosofia que não ri e da grandeza que não se inclina perante as crianças.”  Khalil Gibran