Ao contrario da maioria das pessoas que conheço, lembro-me claramente de varios episodios da minha infancia...
Deveria ser Verão, pois os dias eram enormes e a monotonia ja te tinha instalado no meu cerebro fervilhante de ideias.
Para contexto, na minha casa não havia batons, vernizes nem coisa afins. Esse tipo de extravagancias só aconteciam no Carnaval, quando uma tia mais vaidosa me emprestava um colorido batom.
Então, enquanto a minha mãe preparava o jantar, fui buscar as minhas cores de feltro para fazer-lhe uma surpresa. À frente do espelho branco do meu quarto, ornamentado com autocolantes de princesas, comecei a pintar as varias cores no meu rosto...O resultado foi uma perfeita riscalhada, mas, sendo a intenção surpreender a minha mãe, e dadas as contigencias, das canetas de feltro serem muito mais dificeis de usar do que a maquilhagem normal, até achei que tinha ficado bom... Lembro-me de sorrir para mim mesma e pensar que quando fosse maior, e tivesse a mão mais certinha, iria ficar perfeito!
A minha mãe, na cozinha , entre as panelas, realmente olhou para mim surpreendida! Escusado será dizer que levei uns berros e umas palmadas muito pouco pedagogicas. E obviamente, fiquei tão triste, porque tinha dado o meu melhor, e achei que estava a fazer uma coisa boa. Afinal , todas a mulheres que achava bonitas usavam batons e pintavam os olhos.
Houve outros episodios em que apanhei palmadas por ser criativa demais.
A verdade é que ainda hoje não consigo aceitar que, quando dou e meu melhor, mesmo que as minhas atitudes possam significar muito pouco para os outros, o retorno seja me ferirem.
Aprendi, no entanto, que quem não tem nada de bom para dizer, mais vale ficar calado.
Por isso escolho o silencio... E espero a mesma cortesia dos outros...